Recentemente, um alerta da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) afirma que o número de casos e óbitos por Covid-19 pode aumentar nas próximas semanas, causando a chamada “terceira onda” da doença, que já ceifou mais de 465 mil vidas desde o início da pandemia, em março do ano passado. Rondônia já figura na pior posição do ranking de vacinação em todo o Brasil, com apenas 17% de imunizados com ao menos uma dose de alguma vacina contra o coronavírus.
A afirmação é corroborada por cientistas e estudiosos, entre eles os doutores Tomás Daniel Menendez Rodriguez e Ana Lúcia Escobar, ambos da Universidade Federal de Rondônia (Unir). Eles apontam que apenas 60% das vacinas enviadas ao estado foram aplicadas.
Em estudo recente, que pode ser lido na íntegra aqui, Rodriguez e Ana Lúcia fazem predição sobre o futuro próximo da pandemia de Covid-19 no estado de Rondônia. Com base em dados das semanas anteriores, eles revelam que a média de casos e mortes no estado é muito superior aos dados nacionais.
De acordo com o painel da Covid-19, Rondônia figura um número de 321 mortes causadas pelo coronavírus a cada 100 mil habitantes. A média que leva em conta todo o Brasil fica em 217 mortes a cada 100 mil habitantes. Ou seja, mais de 100 óbitos pelo mesmo número de pessoas.
Este dado elevou Rondônia à primeira posição em número de mortes relativamente à sua população no dia 29 de maio. “Os números de casos e de óbitos expressam a opção do governo estadual, que segue as orientações do governo federal: deixar o vírus se espalhar, para contaminar o mais rapidamente possível a maior parte da população”, afirma a doutora Ana Lúcia Escobar, em entrevista ao Diário da Amazônia.
Segundo ela, o governo federal teria adotado esta estratégia para criar a chamada “imunização de rebanho”.
“A estratégia, também defendida no Reino Unido no início da pandemia, seria capaz, na opinião deles, de obter a tal da imunidade de rebanho. Isto é, quanto mais rapidamente o vírus se espalhasse, contaminando mais gente, mais rapidamente os suscetíveis seriam esgotados e, portanto, mais rapidamente a pandemia seria controlada e a economia retomaria o seu curso”, aponta a pesquisadora.
Entretanto, na prática, a imunização de rebanho estaria longe de ser alcançada sem a vacinação em massa da população. Para a doutora, a estratégia adotada “contraria todas as evidências”. “A doença não causa imunidade permanente, ocorrem reinfecções, por vezes mais graves e surgem variantes do vírus”, alerta Ana Lúcia.
Vale ressaltar, porém, que um estudo publicado recentemente na revista científica Nature, que pode ser lido aqui (em inglês), revelou, pela primeira vez, que pessoas que contraíram a doença de forma ligeira ou moderada desenvolvem uma célula imunológica capaz de produzir anticorpos contra o SARS-CoV-2 para o resto da vida.
Doses
Apesar da queda no número de casos e óbitos em Rondônia nas últimas semanas, os autores do estudo pedem mais medidas de higiene e isolamento social para evitar mais mortes. Segundo eles, as ações de relaxamento das restrições só podem ser iniciadas após a vacinação em massa da população.
Os benefícios da vacinação em massa foram comprovados esta semana com os resultados da imunização de quase toda a população da cidade de Serrana, no estado de São Paulo. Na cidade paulista, os casos e mortes por Covid-19 começaram a cair a partir do momento em que 75% dos habitantes estavam vacinados. O número de óbitos chegou a cair 95% no município.
Com 17% de imunizados com a primeira dose de alguma vacina contra o coronavírus, no momento da publicação desta reportagem, Rondônia pode estar longe de conseguir vacinar o mínimo recomendado para frear a pandemia.
No entanto, segundo a doutora Ana Lúcia, até o dia 31 de maio foram aplicadas apenas 60,9% das vacinas enviadas ao estado. O que acarretaria em menos imunizantes enviados à Rondônia pelo governo federal devido à baixa taxa de vacinação. Entre os municípios que apresentam as menores taxas de aplicação de doses, segundo o estudo da Unir, estão Ji-Paraná, Mirante da Serra e Teixeirópolis.
Apesar de os dados levantados na pesquisa serem provenientes de fontes oficiais, Aline Resende, diretora da Divisão de Imunização de Ji-Paraná, afirmou não ser verdade a informação de que a cidade teria baixa taxa de vacinação.
Para frear a pandemia
No estudo dos doutores da Unir é afirmado que, atualmente, apenas ações de mídia podem conter o avanço da pandemia, tendo em vista a baixa taxa de vacinação e a alta no número de contágios.
“É urgente que os distintos níveis de governo promovam campanhas maciças de divulgação sobre a vacina, a bem de evitar o que se observou em Porto Velho nos últimos dias. A baixa procura da população dita prioritária certamente decorre da desinformação e notícias falsas acerca das vacinas, além de estratégias operacionais que deveriam ser revisadas”, escrevem os doutores no estudo.
Para a doutora Ana Lúcia Escobar, a previsão é de um cenário ainda mais desafiador nos próximos meses.
“Estamos observando o aumento do número de casos e de óbitos em vários estados, associado ao relaxamento das medidas de distanciamento social e retomada das atividades que promovem aglomerações. Isto tem sido apontado por algumas pessoas como terceira onda. Eu, particularmente, não gosto do termo, uma vez que nunca saímos nem mesmo da primeira”, finaliza.